quarta-feira, 28 de janeiro de 2009


É de assustar!
Cerca de 700 mil alunos da educação básica cursam séries incompatíveis com a idade.
BRASÍLIA - Um levantamento da Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) aponta que mais de 705 mil crianças não estão cursando a série indicada para sua idade. A pesquisa foi feita nos 1.114 municípios que já solicitaram ao ministério tecnologias educacionais para a correção do fluxo escolar nos anos iniciais do ensino fundamental.
Os dados são preliminares e o número pode ser ainda maior. O Brasil possui hoje 46 milhões de alunos da educação básica na escola pública. Em 2009, a correção da chamada distorção idade-série será custeada pelo ministério. A secretaria aguarda a resposta de 193 dos 1.307 municípios prioritários das ações do Plano de Desenvolvimento da Educação. Eles apresentaram baixos resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2007 e por isso recebem apoio técnico e financeiro do ministério.
O MEC oferece aos municípios três opções de tecnologias educacionais. Elas foram pré-qualificadas e compõem o Guia de Tecnologias Educacionais. São elas: correção de fluxo escolar na aprendizagem, desenvolvida pela organização não-governamental Geempa; programa de correção de fluxo escolar, do Instituto Alfa e Beto (IAB); e programa Acelera Brasil, do Instituto Ayrton Senna (IAS).
As tecnologias educacionais são como projetos pedagógicos que possuem estratégias e metodologias específicas para fazer com que o aluno recupere o conteúdo atrasado e avance para a série correta. Elas trazem instruções desde a gestão educacional até como avaliar o processo de aprendizagem.
De acordo com o MEC, os dados informados pelos municípios apontam que 90% dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental frequentam série incompatível com a idade. Mas segundo o coordenador-geral de Tecnologias da Educação, Cláudio André, é provável que esse número esteja incorreto. O ministério irá comparar os dados do Censo Escolar de 2008 e discutir esses índices com as secretarias de educação.
Agência BrasilRetirado do Portal IG.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Este era um tópico que gostaria de ver profissinais da educação discutir


(...)

Os professores e os alunos são, em conjunto, prisioneiros dos problemas e constrangimentos que decorrem do défice de sentido das situações escolares. A construção de uma outra relação com o saber, por parte dos alunos, e de uma outra forma de viver a profissão, por parte dos professores, têm de ser feitas a par.

A escola erigiu historicamente, como requisito prévio da aprendizagem, a transformação das crianças e dos jovens em alunos. Construir a escola do futuro supõe, pois, a adopção do procedimento inverso: transformar os alunos em pessoas. Só nestas condiçõesa escola poderá assumir-se, para todos, como um lugar de hospitalidade.

Rui Canário

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Novas Ideias (sem acento) e as velhas Idéias (Com acento) A nova educação! « Gil Giardelli 4.0


Na contramão do Presidente lula, e sua inteligente declaração de que jornais, revistas, sites e blogs dão azia! Ou seja, “não me venha com fatos novos, já tenho as minhas idéias formadas.”

A tese da professora Cláudia Rodrigues, da Unicamp, constatou que “Blogar é aprender” e a leitura de blogs, é ótima para a educação. Abaixo, os principais pontos do excelente trabalho da professora.

Despertou nos adolescentes o desejo de escrever mais - As discussões passaram a ser estendidas para além da sala de aula.

Duas vias - Trata-se de uma ferramenta motivadora para a escrita, que pode ser usada pelo professor, e que se transforma em espaço de debate para o aluno

Negar o novo - A escola ainda possui resistência em levar para sala de aula gêneros digitais que possam auxiliar o ensino.

Falta de visão - “Muitos (Professores) ainda vêem a internet apenas como um instrumento de entretenimento e não se dão conta de sua utilidade nos estudos e pesquisas.

A escola tradicional não entende o dialeto que os jovens utilizam para expressar suas opiniões nos blogs! Gerando negação ao meio!

A interdisciplinaridade - Os alunos passaram a buscar orientações dos outros professores para embasar as suas opiniões promovendo, desta forma, educação coletiva!

Economia colaborativa - As discussões envolveram também família e amigos dos alunos. Pelo fato do blog ser público, não há limitações de acesso. Em decorrência disto, o aluno se preocupa mais com suas produções porque seu texto não é mais direcionado apenas à avaliação do professor – neste ambiente, passa a ser coletivos!

A entrevista da Professora Cláudia Rodrigues para o Jornal da Unicamp! integra aqui




“Os blogs já se transformaram em ferramenta de otimização do aproveitamento no aprendizado escolar. Na experiência da professora Cláudia Rodrigues, que dá aulas de Redação do ensino médio, a iniciativa mostrou-se mais do que positiva. “As discussões tiveram maior alcance do ponto de vista temático e passaram a ser estendidas para além da sala de aula. Despertou nos adolescentes o desejo de escrever mais”, atesta Cláudia, que apresentou dissertação de mestrado no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) com os resultados da estratégia aplicada em quatro turmas de uma escola em Minas Gerais, em 2007.

Os blogs – espaço de interação na internet que são atualizados periodicamente e obedecem a uma ordem cronológica – consistem em um fenômeno recente, mas que conquistou as mais diferentes categorias de internautas pela própria dinâmica da página. No blog, explica Cláudia, os alunos são colocados em contato com diversas fontes e opiniões e, neste aspecto, pode-se exercitar o poder de argumentação. “Trata-se de uma ferramenta motivadora para a escrita, que pode ser usada pelo professor, e que se transforma em espaço de debate para o aluno”, esclarece.

Segundo a professora, a escola ainda possui resistência em levar para sala de aula gêneros digitais que possam auxiliar o ensino. Na opinião da autora da pesquisa, muitos ainda vêem a internet apenas como um instrumento de entretenimento e não se dão conta de sua utilidade nos estudos e pesquisas. Ela alega ainda o domínio que os jovens possuem com as tecnologias da informação e que isso melhor poderia ser aproveitado no ambiente escolar.

Para Cláudia, um dos grandes entraves para a aceitação do blog como estratégia de ensino seria a linguagem própria que a internet produz. É como uma espécie de dialeto que os jovens utilizam para expressar suas opiniões. Mas “não se trata de substituir a forma de ensinar a norma culta. Ela tem seu espaço já reconhecido, assim como a linguagem informal. A minha proposta é utilizar um novo espaço para otimizar os debates ocorridos em sala de aula e despertar o interesse pela escrita”, explica.

O estudo, orientado pela professora Denise Bértoli Braga, envolveu a produção de 20 blogs. Destes, foram selecionados quatro para a análise de dados da dissertação e justificar a importância do estudo. Cláudia conta que a idéia de inserir os blogs nas aulas de produção textual partiu de uma percepção, ao longo dos anos, de que havia uma carência nos debates realizados em sala e, ainda, em decorrência disso uma limitação nas discussões. A experiência, esclarece, demonstrou que a interação aumentou o interesse pela escrita, assim como os alunos passaram a buscar por orientações dos outros professores para embasar as suas opiniões promovendo, desta forma, a interdisciplinaridade.

As discussões envolveram também família e amigos dos alunos. Pelo fato do blog ser público, não há limitações de acesso. Em decorrência disto, o aluno se preocupa mais com suas produções porque seu texto não é mais direcionado apenas à avaliação do professor – neste ambiente, passa a ser coletivo. “Os alunos dominam os fóruns, chats e msn e sabem o que é e como trabalhar com estes meios. Eles invadiram a vida de todo mundo e não há como fugir desta realidade. A escola pode, portanto, utilizar destes canais como mais uma ferramenta”, declara.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009


Descoberta bactéria que afeta o aedes aegypti

"Ouvi pela Rádio Nacional FM de Brasília que cientistas australianos isolaram uma bactéria que reduz o ciclo de vida do aedes aegypti à metade e diminui sua fertilidade. Resta saber se a tal bactéria não afeta mamíferos , especialmente os humanos, e desenvolver um método de sua propagação na população dos mosquitos assassinos. Uma boa notícia para começar o ano."


Fonte: Rádio Nacional FM Brasília

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009



PROGRESSÃO CONTINUADA OU PROMOÇÃO AUTOMÁTICA?



Considerações sobre os alunos que concluem o ensino fundamental e sem estar alfabetizados.

Vamos iniciar esse artigo procurando refletir sobre o que está acontecendo nas escolas públicas atualmente, o aluno tem garantido por lei direito a duzentos dias letivos (200), ele também tem garantido por lei direito a educação gratuita e de qualidade, todos têm conhecimento desses direitos e não é novidade para ninguém, porém já faz algum tempo que a contradição entre discurso e prática fica evidente até para os leigos, ou para as pessoas que não fazem parte do mundo escolar, de fato a sociedade questiona o regime de progressão continuada implantado nas escolas públicas e que nada tem de progressivo, na verdade se mostra como um sistema regressivo, autoritário que descumpre a lei pois não valida aquilo que é assegurado: Qualidade de Ensino. Já faz algum tempo que questiono esse regime autoritário que de inclusivo passou a exclusivo, pois os alunos são promovidos mesmo não aprendendo e quando chegam no Ensino Fundamental I, mal lendo e escrevendo simplesmente ficam assistindo às aulas sem nada compreender, e o professor tem a responsabilidade de ensinar o conteúdo para vários alunos e não tem como alfabetizar alunos que já deveriam estar alfabetizados, isso é inclusão e igualdade de oportunidades?
Se a Progressão Continuada desse aos alunos oportunidades iguais de aprender teríamos tantos alunos com dificuldades na leitura e escrita concluindo o Ensino Fundamental I? Professores questionam essa prática, mas são obrigados a mascarar problemas, reduzir o números de reprovados, pois como já disse tudo é imposto, não existe uma reflexão com relação as conseqüências que isso trás para os alunos, como fica um adolescente que sabe não ter aprendido mas se vê igualmente promovido, mas diferentemente dos demais não sabe ler e escrever. Considero importante os estudos feitos por Emília Ferreiro na área da alfabetização, e a Psicogênese da Língua escrita sem dúvida é o marco divisor para a educação e para a alfabetização, porém não acho justo o que fazem com os alunos que ainda não dominam o código da língua escrita, aprovam para o ano seguinte e dizem assim: “esse alunos está silábico-alfabético e logo se tornará alfabético”... No final do Ensino Fundamental I? Isso é grave e não pode ser tratado simplesmente como um nível de escrita, precisamos pensar que esse aluno passou pelo menos oitocentos (800) dias letivos na escola somando os quatro anos iniciais e não aprendeu a ler, não se trata de dar respostas a uma sondagem escrita, mas sim de investigarmos o que aconteceu durante esse tempo todo que esse aluno passou pela escola e não aprendeu.
Professores, gestores, coordenadores a sociedade em geral precisa refletir sobre as conseqüências desse problema a curto e longo prazo, pois indiferente dos interesses políticos e econômicos que estão por trás desses desmandos em nome de uma falsa inclusão, temos que pensar no aluno, não como discurso mas na prática, pois somos responsáveis pelos nossos atos, e somos cúmplices de algo que não funciona tão bem como deveria. A Progressão Continuada da forma como vem sendo feita desde a sua implantação não cumpre com o intuito explícito em seu próprio nome “Progressão Continuada”, isso porque o aluno é aprovado automaticamente mesmo sem ter aprendido e dessa forma não progride e sim regride. Cabe ressaltar que os alunos com dificuldades de aprendizagem recebem um reforço escolar de qualidade discutível muitas vezes ministrados em salas superlotadas ou por um professor inexperiente, quando deveria ser o contrário, pois alunos com dificuldades de aprendizagem demandam atenção especial e um olhar apurado, de um profissional experiente para intervir individualmente ou em pequenos grupos.
De acordo com Patto (2005), “A democratização do ensino requer muito mais do que “pôr toda criançada na escola”, para que ela obtenha, não importa como, o diploma no prazo previsto”.
De fato não é possível pensar numa escola que garante o diploma mas não garante a aprendizagem, de que adianta ter um diploma mas não ter o domínio da leitura e escrita. Não defendo a volta de reprovação como solução, mas proponho que façamos de fato alguma coisa concreta, que não se restrinja a manifestos escritos como esse e tantos outros, mas sim que possamos transformar o fazer docente, para transformarmos o sistema e a estrutura de maneira consciente. A tarefa não é fácil, demanda muita coragem e acima de tudo vontade de modificar esse sistema injusto e que transformou a educação pública numa enganação, não devemos mais aceitar sem questionar, façamos isso nas escolas, nas reuniões pedagógicas, nos congressos, pois se não começarmos um grande plano de mudança estaremos coniventes e passivos diante do erro.
“A melhor maneira que a gente tem de fazer possível amanhã alguma coisa que não é possível de ser feita hoje, é fazer hoje aquilo que hoje pode ser feito. Mas se eu não fizer hoje o que hoje não pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente eu faço amanhã o que hoje também não pude fazer”. (Paulo Freire)
Para finalizar gostaria de lembrar o mestre Paulo Freire que idealizou a Progressão Continuada mas não a promoção automática com seu caráter mascarado, pelo contrário Paulo Freire idealizou o bom ensino, a leitura de mundo, a educação como meio para a libertação, o respeito aquele que está sendo alfabetizado e a garantia de que ler é direito de todos. Infelizmente suas idéias foram distorcidas e que vemos é uma educação pública em crise e a Progressão Continuada se transformou em promoção automática.

domingo, 4 de janeiro de 2009

EDUCAÇÃO POR APREÇO: O FUTURO SERÁ PÚBLICO OU PRIVADO?


Não tenho mais a ilusão de saber,
Não tenho mais a ilusão de poder ensinar
[...] Também não tenho bens, muito menos dinheiro,
Nem honra, nem glória no mundo.
Goethe – Fausto Zero

Uma educação com apreço é uma educação sem preço!
O que quer dizer tal afirmação?
Este é um exemplo típico de adjetivação do sentimento mantido em uma relação pessoal ou social em que se quer destacar, tipicamente, uma conotação ou significado anticapitalista. Aliás, este sentimento anti-burguês está contido na própria palavra apreço, pois, o a implica em negação, ou simplesmente no não. Logo, o entendimento da expressão poderia ser transformado em a-preço ou algo que não-tem-preço. Também podemos entender como Fausto: Também não tenho bens, muito menos dinheiro. É o drama bem conhecido dos milhões de professores mal-remunerados do país.
Isto ainda lembra a importância de se refletir sobre as palavras, seus usos e significados, e do método simples de decomposição das mesmas para em suas partes encontrar alguns segredos da etimologia.
Ao contrário da manifestação de vontade de consumir ou ter para condições para tal, inclusive demonstrando certa arrogância ao se dizer: “— coloque preço!”. A educação deveria ser/ter uma relação de apreço, muito mais do que de autoridade ou de expansão de conteúdos ou aplicação de métodos. Porém, o mercado e a mercantilização de praticamente todos os aspectos da vida social levam a tratar os sujeitos no exato sentido contrário, quando se diz, por exemplo, que os alunos são clientes. Uma e captura e de subordinação das subjetividades, aliás, há muito denunciado e já bastante conhecido:
Onde quer que tenha chegado ao poder, a burguesia destruiu todas as relações feudais, patriarcais, idílicas [...] Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca e no lugar da inúmeras liberdades já reconhecidas e duramente conquistadas colocou unicamente a liberdade de comércio sem escrúpulos [...] Transformou em seus trabalhadores assalariados o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem de ciência [...] A burguesia rasgou o véu de comovente sentimentalismo que envolvia as relações familiares e as reduziu a meras relações monetárias (Marx, 1993, pp. 68-69).

Da mesma forma Goethe (1997 & 2001), logo na primeira página do seu Fausto já indicava a insatisfação, a depreciação do médico-professor:
FAUSTO Ah, estudei até a exaustão
[...] Tudo com a maior paciência.
Mas eis-me aqui, pobre ignorante
[...] Sou professor, doutor até,
Há dez anos eu fico atrás
Dos meus alunos sem parar.
Estudar, estudar, estudar!
Mas vi que não é possível saber
E isso dilacera o meu coração
[...] Não tenho mais a ilusão de saber,
Não tenho mais a ilusão de poder ensinar
[...] Também não tenho bens, muito menos dinheiro,
Nem honra, nem glória no mundo.
Nem mesmo um cão viveria desse jeito!
(Goethe, 2001, p. 15).

Todavia, não bastasse a relação de clientela (ou clientelismo, que seria ainda pior) temos que, em latim, cliente deriva de cliens e quer dizer basicamente vassalo. Logo, as relações de ensino-aprendizagem se imiscuem com a vassalagem.
No exemplo do ensino privado, restaria saber quem é o vassalo e quem é o Senhor! De todo modo, não pode haver aí uma educação sem preço, desmedida, sem medida monetária, sem conotação lucrativa. Quando, na verdade, a única conotação lucrativa deveria ser aquela natural de se agregar valores culturais, informações, (re)conhecimento.
Como se diz, a atenção, a perícia, a sensibilidade do professor/educador deveriam ser suficientes para perceber o progresso do conhecimento em seu alunado: “A perícia do professor e o progresso do aluno — e os deveres do aluno — começam todas as vezes que ocorre a comunicação de até mesmo um único elemento do conhecimento de um espírito ao outro” (Hutchens, 2007, p. 09 – da epígrafe).
Lévinas ensinava isto na tentativa de combater a instrumentalização do saber e da razão, pois ele próprio fora vítima (com toda sua família) do símbolo maior da racionalização como burocratização da vida cotidiana (Adorno, 1995): os campos de extermínio e de trabalhos forçados no regime nazista.
Nessas circunstâncias extremas ou na mercantilização da educação (da vida, porque não há social ou sociedade sem educação), o eu subsume-se na totalidade burocratizante e por isso o Mesmo ocupa o lugar do Outro. Quando a formalidade (racionalização) ou o valor de troca capturam as subjetividades, a vida como um todo deixa de ser interessante, repetindo-se, torna-se medíocre: “É bem possível que nenhuma individualidade ou especificidade, nenhum enigma ou transcendência pura seja capaz de sobreviver [...] Poderíamos dizer que a vida, então, perderia aquele sabor picante que faz com que valha a pena viver...” (Hutchens, 2007, p. 32).
Contrariamente a este sentido, entretanto, Lévinas procura ver caminhos e saídas que levem ao encontro do Outro(a). O mesmo mundo é capaz desse encontro e daí a idéia de que o Outro inunda a mesmice e dessa ruptura nasce uma ética da responsabilidade. Assim, pode-se dizer que o eu é o-ser-no-Outro. O eu é um ser (responsável) no Outro (eticamente). Em outros termos:
Lévinas denunciou os efeitos que a ânsia de perfeita inteligibilidade produz na interação entre as pessoas. Seus textos nunca cessam de mostrar um fascínio com as maneiras misteriosas pelas quais os seres humanos expressam sua singularidade no intercâmbio social (Hutchens, 2007, p. 33).

Portanto, é como se procura por um escape em que a própria educação não fosse apêndice do mundo do trabalho ou de um Know-How que levasse ao sucesso, à fortuna pessoal. Pode-se dizer que é uma educação de virtudes aquela que não procura e muito menos contentasse com pouco.
A inteligência que advém da educação está em não se contentar, com um saber de tipo ready made ou empacotado, comprado pronto e pronto para ser usado: “De fato, o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta ready made, que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada” (Morin, 2000, p. 14).
A razão desse descontentamento com a educação que leva ou traz o pouco ou coisa nenhuma, decorre do simples fato de que o saber não é neutro, todo saber é poder, seja para Bacon, seja em Foucault: “Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez” (Morin, 2000, p. 14). Paulo Freire (2000) diria que é preciso ensinar (e aprender) o certo.
Este conhecimento desmesurado de mero valor de troca seria o ideal em que docentes e discentes fossem sujeitos complementares de um longo e cauteloso processo. Mas, como ver tal realidade em meio à mercantilização do saber, com salas de 100 alunos e apostilas para vencer?
Infelizmente, ao contrário do saber sem-preço, o Know-How adquirido na relação de ensino-aprendizagem monetarizada, em que os próprios atores são transformados em coisas, é claro que não permitirá o reconhecimento dos outros sujeitos do conhecimento, daí que também não haverá reconhecimento do Outro.
Isto nos leva a pensar no diferencial que o ensino público tem a oferecer, ou seja, o Princípio Republicano. Basicamente, implica em dizer que, se tratamos de instituições baseadas no consenso democrático de que se regem pela acuidade, pela soberania da coisa pública, então, o resultado almejado (pela lógica) seria a formação de um pensamento republicano de semelhante configuração. De certo modo, esta é a posição/opinião de Juliana Neuenschwander, doutora pela universidade pública, leciona e concluiu toda sua formação em instituições públicas:
A lógica do mercado é incompatível com a qualidade do ensino. Não há quem me convença que educação seja mercadoria de fácil consumo. Isto não significa que eu desconheça instituições privadas de excelência. Mas certamente prefiro o ensino público, por um princípio republicano, pois acredito na educação como tarefa do Estado, em seu compromisso na formação das futuras gerações. O mercado não tem esse compromisso: seu objetivo é o lucro. As duas coisas não combinam...(Júnior, s/d, p. 62).

Juliana Neuenschwander, atualmente, é diretora da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. De certa forma, também podemos dizer que este trabalho intelectual do professor-pesquisador seja parte do trabalho vivo, criativo, daquele profissional que se dedica à pesquisa, não estando refém das 40 aulas semanais ou da burocracia das coordenações ou escritórios e/ou consultórios, laboratórios particulares. Seguindo a dica de Antonio Negri (1999), este professor-pesquisador não está voltado ao Know-How, mas a um savoir faire-savoir vivre (viver intensamente o prazer do trabalho da criação), diante de uma atividade natural e essencial ao bom desempenho do seu trabalho e, portanto, igualmente específica e destinada à própria atividade laboral do educador: pesquisa/ensino/extensão (Martinez, 2003).

"Quem não luta por seus direitos,

vive a espera de favores..."

Sejam todos bem-vindos!

Seja muito bem-vindos todos os amigos, apaixonados ou desesperados por Educação. Espero de coração que aprendamos muito uns com os outros. Deus te abençoe.